sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Poema do amigo aprendiz

"Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."


Fernando Pessoa

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"Being alone hurts..."

Então é assim que sabe a solidão. É estar rodeada de pessoas, num burburinho constante e estares só. É fechares-te no quarto escuro à espera que alguém te bata à porta, enquanto as lágrimas te escorrem pelo rosto. É ser maníaco por pequeníssimas coisas porque não há mais nada nem ninguém. É ergueres-te todas as manhãs na esperança remota e ridícula que alguém te vai dizer o quão importante és. É acordares pensando que morreste e foste parar ao paraíso.
É ver todos e não ver ninguém. É ter tudo e nada. É o vazio pleno dentro de ti. É ninguém querer saber. É triste, amarga, rancorosa e vingativa a solidão.
Apanha-te desprevenido. Aparece quando menos precisas dela. É um vulcão que te suga e queima toda a réstia do teu ser.
Queres gritar mas sabes que ninguém te vai ouvir. Para quê teres o trabalho de gritares, de te mexeres quando não está ninguém aqui? Para quê caíres se ninguém te vai amparar a queda?
A solidão é assim. Impede de te ergueres e lutar pois nunca valerá a pena. Nunca te irão aplaudir pelos teus feitos ou desfeitos.
Agora deitas-te na cama e rezas para que finalmente não acordes para a dura realidade que é estar só.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

(Re)Birth

Liberto-me suavemente das correntes que me amarram ao passado. Não sinto qualquer dificuldade em fazê-lo. O passado é algo que não me atormenta agora. Trivial, diria até, insignificante. É triste saber que nunca estive agarrada àquilo que me deveria fazer sentir no topo do mundo. É triste não sentir nada, simplesmente.
Descubro, pouco a pouco, a felicidade num presente irreal, imprevisível. Descubro como gosto de mim, como não sou culpada das minhas quedas. Descubro como estou bem.
Redescubro o meu corpo, o meu prazer, o meu fogo, a minha paixão.
Renasço novamente. Como uma Fénix. Sou novamente eu. Tenho garra, força, sorrio, faço sorrir. Consigo sonhar de novo. Já vejo o meu caminho definido, onde antes só via escuridão. Já consigo ver o próximo dia, desejo acordar, aliás preferia nem dormir para conseguir desfrutar da plenitude desta minha realidade!
Vivo finalmente! Vivo após a minha morte…

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Uma noite de loucura

É apenas puro prazer que sentimos. Não precisamos de pensar em nada ou sequer sentir seja o que for. Nada mais que desejo. É a única coisa que necessitamos para deitar-mo-nos numa cama fria, arrebatando-a com o calor dos nossos corpos unidos. "Estás molhada...e tão quente!" e sinto-o. Respiro ofegante enquanto gemes suavemente no meu ouvido. Estamos a tremer...de loucura! E possuis-me violentamente como se não estivesse ninguém a ouvir a nossa sintonia perfeita. Estamos só tu e eu. Corpo e mente...tu e eu somente. E mais nada. Vontade, desejo, ferocidade, paixão carnal...Os sabores misturam-se. Palavras sujas...arrepiantes. Misturam-se sentidos, suores, gritos. A nossa luxúria é doce. É provocante. É boa...E vamos repetir porque foi demasiado bom para ficar-mo-nos por apenas uma noite de loucura...

domingo, 6 de setembro de 2009

Au revoir!

Revejo páginas e páginas da minha curta existência, da minha curta história. Releio palavras, situações, sentimentos, amores, gostos, tudo aquilo que eu achava digno de preservar no papel, na eternidade. Disse coisas bonitas, disse coisas ocas, mas disse-as com a mais profunda sinceridade de poeta. Ao ler estas páginas deparo-me com um buraco negro crescente. Cresce velozmente. E eu estou lá dentro, no fundo da escuridão. À medida que me leio reparo que não utilizo mais aquelas palavras agradáveis, propícias a várias interpretações. Não. Agora somente espelho amarguras, angústias e dores. Que me aconteceu? Onde está aquela mulher poderosa, segura de si e irónica? Perdeu-se no longo caminho que já percorri. Agora penso duas vezes, analiso e calculo os meus sentimentos e as minhas acções. Não gosto mais de aventuras, não gosto de loucuras. Neste momento, sei que sou a pessoa mais infeliz que caminha na Terra. Visto-me de luto todos os dias, na esperança de voltar a ser invisível. Sinto-me uma carcaça sem valor. Não gosto de mim, e duvido que alguém goste. Caminho novamente sozinha, na escuridão. Voltei a olhar para o chão, no meio da multidão. E no meio desta amargura, sinto saudades. Saudades de mim. Saudades dos tempos em que sorria, saudades dos tempos em que me olhava ao espelho e gostava do que estava lá reflectido, saudades de ser a única no meio de tanta gente, saudades de ser desejada, saudades de ser feliz. E é com profunda mágoa que, assim, anuncio a minha morte. Estou morta. Não sinto nada. Já nem sinto adrenalina para voltar a erguer-me do chão. Morri. Desisto.
Au revoir!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

La dolce vita

Vivemos de pequenos momentos. Temos a nossa vida fragmentada em pessoas, em sentimentos, em partículas de tempo, em vivências. Nada do que vivemos é igual ou alguma vez se repetirá. O Hoje não é igual ao Amanhã nem ao Ontem. Isto reconforta-me. Sei que poderei lembrar aquilo que de mais bonito vivi; e sei que posso melhora-lo. Sei que nunca mais sofrerei da mesma forma ou com a mesma intensidade. Reconforta-me saber que o para sempre é relativo, que o amor é relativo e que até eu sou portadora desta virtude da relatividade. Não é bom saber que podemos mudar? Não é bom saber que não nos repetimos? Assim a vida será sempre uma surpresa. A monotonia não existe.
Existe apenas algo que não muda nem mudará: a vida são fragmentos. E nós? Somos obrigados a viver esses fragmentos.
Obrigada doce vida por estes fragmentos!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Apenas...imagina

Imagina uma noite. Uma só noite.

Estás deitado numa cama, com a almofada já encharcada de lágrimas.

Tens a estrondosa habilidade de chorar apenas, sem pensar.

Que estás a fazer?

Nada.

Não pensas, não ages, nada.

Estás ali em estado vegetativo só a chorar.

Imagina a pessoa que amas nessa noite.

Onde queres que ela esteja?

Ao teu lado?

Longe de ti porque agora apenas queres solidão?

Ou queres que essa pessoa esteja ao lado de outrem, animada?

Imagina que esse outrem acontece ser a pessoa antes de ti.

E imagina agora, e por último, que quem te deixou de rastos foi, involuntariamente, a pessoa que amas…

Imagina agora que a pessoa a chorar…

Sou eu.