sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Pequenos desejos

Sento-me numa mesa, de um café barulhento. Os empregados correm frenéticos com bandeijas cheias de caprichos. Aqueles pequenos caprichos que ninguém resiste, mesmo de bolso roto. Nesta manhã gelada cruzam-se sorrisos e conversas. Olhares pecadores são trocados: amantes que se encontram, desejos carnais vorazes entre homens misturam-se com o cheiro a café, pequenas solidões revelam-se... No meio desta pequena confusão matinal, vislumbro uma mulher lindíssima: move-se devagar, delicadamente. Uma profunda palidez faz sobressair o tom avermelhado de seus cabelos; o corpo ( esse demónio que, numa mulher, escultura-se em formas provocantes, capaz de me possuir e levar à demência) era perfeitamente moldado...Pensamentos devastos correm pela minha mente: bebendo o meu café, só penso em possuí-la, arrancar-lhe o ar inocente, fazê-la gemer com leves movimentos. Ali mesmo, em cima daquela mesa cheia de loiça. O meu relógio marca a fatal hora de me aposentar daquela maravilhosa visão, rapidamente transformada em fantasia sexual. Levanto-me, calmamente, como se a minha mente estivesse vazia. Esqueço-me daquele pequeno encontro de olhares e volto à vidinha quotidiana, repleta de insectos insignificantes com cheiro a sovaco. Enfiada numa sala, aquelas visões voltam à memória com uma certeza: aquele momento não mais se repetirá.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O invasor

Ouvem-se pequenos passos no corredor que dá para o quarto. A porta abre-se devagar; um aroma de jasmim perfuma aquele cubículo que outrora tresandava a tabaco. Deitada em seu leito, ela sente alguém a puxar os lençóis. Prefere continuar imóvel, já suando de medo, esperando que o alguém saísse de perto de si. Nada acontece durante longos minutos. Mas o perfume persistia, provando que o alguém invasor ali permanecia. Longos dedos de uma mão suave e delicada começam a percorrer, aos poucos, o seu corpo. É uma mulher quem a toca. Sim, tal toque só pode ser de uma mulher, conhecedora de outros corpos de outras mulheres. Deitada, imóvel, ela sustém a respiração. Aquela mão despe o seu corpo suado e já excitado...
Finalmente, os dois corpos femininos tocam-se. Até então sem reacção, um gemido foge da sua boca ao sentir as curvas daquele corpo invasor. Ardentemente, as mãos percorrem o corpo, incitando ao prazer sexual. Beijos trocam-se...e a boca do invasor toca-lhe o sexo...
Um grito de prazer ouve-se em toda a casa.
Inquieta, ela acorda. Ainda ensonada e suada, entende que tudo está intocável: trajes menores ainda cobrem as suas partes íntimas, os lençóis cobrem o corpo, a porta está trancada...
O sonho parece não ter deixado vestígios do que ela acabara de passar... Chora desgostosa...