quarta-feira, 29 de julho de 2009

(In)Certezas

Há uma parte de mim que anseia novamente pelo choro. Por vezes, acontece-me. É quando sinto o meu corpo sem vida, é quando sinto a alma desnuda, é quando estou oca por dentro. Nestas alturas o relógio pára, a cidade apaga e eu...não existo. Existe apenas pequenos fragmentos de mim a escorrem-me pela minha face.
Acontece também eu parar de chorar. O relógio está parado, a cidade continua apagada. Mas volto a mim, sinto-me de novo. Sinto o sangue a fervilhar-me nas veias, sinto vontade de gritar! Sinto vontade de sonhar, de construir objectivos, de fazer algo. Raramente o faço. Sou aquela mosquinha morta na secretária que se tem de limpar. Sou a pedra no sapato, sou a luz apagada, não sou nada.
Ciclo vicioso. Deparo-me com o nada e...volto a chorar. E é no meio deste ciclo vicioso que ouço um toque. É o meu telemóvel.
Tenho poucas, ou nenhumas!, certezas na vida. Não sei quem sou, não sei para onde vou, não sei quando vou, não sei porque choro ou porque páro de chorar. Mas é no embalo daquele som que descobro uma certeza na minha vida: eu estou incondicionalmente e irrevogavelmente apaixonada por ela.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Vaidade

Porque não é só nas minhas palavras que encontro a minha essência...
Sonho que sou a Poetisa eleita, 
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,

Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade

Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!

Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,

Aos pés de quem a Terra anda curvada!


E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,

Acordo do meu sonho... E não sou nada!...


Florbela Espanca

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Rascunho

Estranho mundo o nosso onde as palavras são ouro, interessam, significam. Irónico eu própria pensar assim. Eu que me refugio nas palavras para os desabafos da minha alma. Eu que eternizo momentos, sentimentos e frustrações em pedaços soltos de papel.
Realmente as palavras são ouro. Forma de fuga. Forma de prisão. Estranha forma de actuar.
Juntas formam poesias, prosas, canções.
Juntas derretem corações.
Juntas mentem sentimentos.
Juntas desenham o meu ser interior.
Juntas transmitem o que sinto.
Juntas iludem almas.
Juntas enganam-me também.
Oh sim! Estranho mundo o nosso que acredita em palavras!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Fragmentos

É intenso este trago de tabaco que sinto na garganta. É forte, incomoda. Nunca antes tinha incomodado. Também nunca tinha fumado com tanta necessidade. Nunca antes tinha fumado a chorar. Esta minha vontade de chorar é também intensa. Não há mais palavras, nada mais sabemos que fazer. Eu, então, choro. Choro porque sei que te vou perder. Choro porque o coração está arranhado, profundamente magoado. Choro esperançada que estas lágrimas me afoguem, ou queimem, ou sequem o meu interior, ou me matem de qualquer outra maneira. Olho para o cigarro. Olho para a lua, para o céu, para os mortais que me rodeiam. Acho que ainda tenho a vã esperança de que alguém me mostrará o caminho para o sorriso...