sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Pequenos desejos

Sento-me numa mesa, de um café barulhento. Os empregados correm frenéticos com bandeijas cheias de caprichos. Aqueles pequenos caprichos que ninguém resiste, mesmo de bolso roto. Nesta manhã gelada cruzam-se sorrisos e conversas. Olhares pecadores são trocados: amantes que se encontram, desejos carnais vorazes entre homens misturam-se com o cheiro a café, pequenas solidões revelam-se... No meio desta pequena confusão matinal, vislumbro uma mulher lindíssima: move-se devagar, delicadamente. Uma profunda palidez faz sobressair o tom avermelhado de seus cabelos; o corpo ( esse demónio que, numa mulher, escultura-se em formas provocantes, capaz de me possuir e levar à demência) era perfeitamente moldado...Pensamentos devastos correm pela minha mente: bebendo o meu café, só penso em possuí-la, arrancar-lhe o ar inocente, fazê-la gemer com leves movimentos. Ali mesmo, em cima daquela mesa cheia de loiça. O meu relógio marca a fatal hora de me aposentar daquela maravilhosa visão, rapidamente transformada em fantasia sexual. Levanto-me, calmamente, como se a minha mente estivesse vazia. Esqueço-me daquele pequeno encontro de olhares e volto à vidinha quotidiana, repleta de insectos insignificantes com cheiro a sovaco. Enfiada numa sala, aquelas visões voltam à memória com uma certeza: aquele momento não mais se repetirá.