domingo, 6 de setembro de 2009

Au revoir!

Revejo páginas e páginas da minha curta existência, da minha curta história. Releio palavras, situações, sentimentos, amores, gostos, tudo aquilo que eu achava digno de preservar no papel, na eternidade. Disse coisas bonitas, disse coisas ocas, mas disse-as com a mais profunda sinceridade de poeta. Ao ler estas páginas deparo-me com um buraco negro crescente. Cresce velozmente. E eu estou lá dentro, no fundo da escuridão. À medida que me leio reparo que não utilizo mais aquelas palavras agradáveis, propícias a várias interpretações. Não. Agora somente espelho amarguras, angústias e dores. Que me aconteceu? Onde está aquela mulher poderosa, segura de si e irónica? Perdeu-se no longo caminho que já percorri. Agora penso duas vezes, analiso e calculo os meus sentimentos e as minhas acções. Não gosto mais de aventuras, não gosto de loucuras. Neste momento, sei que sou a pessoa mais infeliz que caminha na Terra. Visto-me de luto todos os dias, na esperança de voltar a ser invisível. Sinto-me uma carcaça sem valor. Não gosto de mim, e duvido que alguém goste. Caminho novamente sozinha, na escuridão. Voltei a olhar para o chão, no meio da multidão. E no meio desta amargura, sinto saudades. Saudades de mim. Saudades dos tempos em que sorria, saudades dos tempos em que me olhava ao espelho e gostava do que estava lá reflectido, saudades de ser a única no meio de tanta gente, saudades de ser desejada, saudades de ser feliz. E é com profunda mágoa que, assim, anuncio a minha morte. Estou morta. Não sinto nada. Já nem sinto adrenalina para voltar a erguer-me do chão. Morri. Desisto.
Au revoir!

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